Um movimento que sacudiu o mundo em 2020

Iniciado nos Estados Unidos, o Black Lives Matter ganhou proporções mundiais e trouxe profundas reflexões no descaso em relação à população negra

BLM influenciou manifestações semelhantes no mundo e foi decisivo nas eleições americanas. Foto: Roberto Schmidt/ AFP

Minneapolis, estado de Minnesota (EUA), 25 de maio de 2020. A data está bem presente no imaginário nacional americano. Nesse dia, George Perry Floyd Jr. foi estrangulado por um policial, que ajoelhou-se sobre o seu pescoço, em mais uma truculuenta abordagem da polícia, por George ter, supostamente, usado uma nota de falsa de U$ 20 em um supermercado. O assassinato foi filmado. E as imagens chocaram o mundo. Mal sabiam Derek Chauvin, o autor do estrangulamento, e sua equipe, que o episódio fortaleceria o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), iniciado em 2013 e que condenava a violência policial e a discriminação racial contra a população negra americana. Foi um estopim que desencadeou reações continentais e uma série de protestos nos Estados Unidos. Outros países revisaram homenagens a figuras associadas à escravidão. E seriam decisivas nas disputadas eleições presidenciais dos Estados Unidos.


Como se sabe, o BLM fez forte campanha contra o atual presidente Donald Trump, alertando para a omissão do republicano no tocante à violência contra os negros. O movimento se aliou a Joe Biden – que acabou vitorioso – e celebrou também o triunfo de Kamala Harris, advogada que concorreu como vice do então candidato democrata. Pela primeira vez na história, uma mulher negra chegava a tão alto posto na política americana.
Patrisse Cullors, cofundadora do BLM, comemorou a vitória de Harris e Biden e também solicitou uma reunião com a dupla para discutir os compromissos a serem firmados com a comunidade negra. “Sem o apoio retumbante dos negros, seríamos confrontados com um resultado eleitoral muito diferente”, escreveu em carta enviada aos vencedores.


“Não estávamos nem percebendo o nível de trauma diário que vivíamos nas mãos de Donald Trump. Em um nível emocional e simbólico, é difícil não comemorar Kamala Harris”, disse Melina Abdullah, também cofundadora do Black Lives Matter, ao jornal americano Hartford Courant. Acredita-se que a dupla de democratas será bastante pressionada pelo movimento negro para o cumprimento das promessas de campanha. O enfrentamento ao racismo é um dos quatro pontos prioritários da nova gestão. (Da Redação, com agências)

Museus internacionais “quebraram o silêncio”

Foto: Cindy Ord/Getty Images via AFP

O movimento Black Lives Matter também provocou inúmeras manifestações e derrubadas de estátuas de “doadores generosos”, levando os museus a questionarem qual o seu papel e a abandonarem o silêncio pelo qual eram acusados.


Após a morte de George Floyd, o movimento Black Lives Matter apelou a várias instituições para exigir uma mudança e uma melhor representação.
O Metropolitan e o MoMa de Nova York expressaram “sua solidariedade com a comunidade negra”.


No Reino Unido, o British Museum, num ato simbólico, retirou de seu pedestal o busto de Hans Sloane, seu fundador, que enriqueceu graças ao tráfico de escravos, e agora o expõe em uma vitrine. (AFP)

Palácios buscam conserto histórico

O órgão encarregado de manter edifícios históricos, como a Torre de Londres ou o Palácio de Kensington, lançou uma investigação sobre os vínculos de seis palácios reais britânicos com a escravidão.


“Já era hora”, disse ao jornal Lucy Worsley, conservadora-chefe do Historic Royal Palaces.“Estamos atrasados. Não fizemos o suficiente”, lamentou.
Como resultado do BLM, protestos e investigações sobre as relações das instituições atuais, como universidades e bancos com o passado colonial, se multiplicaram no Reino Unido.


Uma investigação realizada em setembro pelo National Trust, órgão encarregado de preservar os principais monumentos históricos do Reino Unido, descobriu que um terço deles tinha vínculos com a escravidão. (AFP)

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