Xinhua – Diario de Pernambuco

A maior agência de notícias da China e um dos principais canais para conhecer o país

Europa enfrenta pandemia de COVID-19 com 1 milhão de mortes relacionadas

Bruxelas, 9 abr (Xinhua) — Para Danica Ângela Marcos, o cenário mais estranho e triste foi assistir ao funeral do avô ao vivo no Zoom, ver os primos chorando na tela, mas não conseguir dar um abraço neles por causa da quarentena.

“Não é como se pudéssemos fazer tudo de novo quando a pandemia acabar… Eu não posso voltar ao funeral do meu avô”, murmurou a londrina de cabelos escuros com cerca de 20 anos, revirando os olhos para conter as lágrimas, cujo avô faleceu na Califórnia, Estados Unidos, no final do ano passado.

Muitos europeus, como Marcos, passaram por sofrimentos e lamentações semelhantes, conforme o pesadelo de COVID-19, que envolve o continente há mais de um ano, ainda o atinge.

Na sexta-feira, o Escritório Europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS), sediado em Copenhague, anunciou que a região europeia registrou mais de 1 milhão de mortes relacionadas ao COVID-19.

FATORES RELATIVOS AO RESSURGIMENTO

Desde que estourou no final de 2019, o COVID-19 tem causado infecções e mortes em um ritmo acelerado em toda a Europa. Um após o outro, governos de diferentes países foram acordados para o perigo, anunciando quarentenas parciais ou totais, e até toques de recolher noturnos, movimentos raramente vistos desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Escolas fechadas, voos paralisados, cabeleireiros e restaurantes fechados, apenas mercearias e lojas de produtos essenciais, na maioria dos países, estavam entre os poucos que tiveram permissão para abrir, enquanto os clientes eram obrigados a usarem máscaras e manterem distanciamento social de mais de um metro.

Antes da reabertura das escolas, cursos on-line foram oferecidos a alunos forçados a ficarem em casa durante a pandemia em muitos países europeus. Muitas escolas enviaram tarefas aos pais por e-mail ou outras ferramentas digitais, ou compartilharam recursos on-line gratuitos.

No entanto, nem todos os alunos são autodisciplinados. Na França, cerca de 5 a 8 por cento dos alunos foram “perdidos” ou ficaram inacessíveis aos professores, estimou o Ministério da Educação da França em abril de 2020.

“Este vírus impôs limitações a todos nós. Praticamente não tenho vida social e não posso abraçar as pessoas que amo. Minha vida pessoal mudou completamente. Poucas coisas permanecem da minha vida anterior. E particularmente me sinto exausta, inquieta e incerta”, disse à Xinhua, Abigail Mora Sanz, psicoterapeuta na Espanha.

Além do envelhecimento da população do continente e dos sistemas de saúde sobrecarregados, alguns especialistas atribuíram a desolação na Europa às frequentes mudanças nas políticas, que oscilaram entre quarentenas e flexibilizações por várias vezes.

Um dos maiores desafios para os países europeus é “a tentação de uma reabertura muito rápida, que é politicamente popular, mas pode causar outra onda da epidemia antes da vacinação adequada”, disse Miklos Hargitai, editorialista do jornal Nepszava da Hungria.

“Além disso, a Europa não adotou a prática dos países mais bem-sucedidos em conter o vírus”, disse Hargitai à Xinhua.

Outro fator por trás do atual ressurgimento de COVID-19 na Europa é a disseminação alarmante e explosiva de variantes do vírus altamente contagiosas, o que aumenta o risco de hospitalização.

A lenta implantação da vacinação também pode prolongar a pandemia. De acordo com o Escritório da OMS para a Europa, apenas 10 por cento da população total da região recebeu pelo menos uma dose da vacina e 4 por cento recebeu as duas, até 1 de abril.

“As vacinas são nossa melhor saída dessa pandemia… No entanto, o lançamento dessas vacinas é inaceitavelmente lento”, disse o Dr. Hans Henri P. Kluge, diretor-regional da OMS para a Europa.

AUMENTO DA VACINAÇÃO

No dia de abril, Kluge pediu aos governos da região que “aumentassem a produção das vacinas e a vacinação”.

O fotógrafo alemão, Ulrich Hufnagel, foi diagnosticado com COVID-19 em setembro do ano passado, com os chamados sintomas de casos leves, e ficou em quarentena por mais de 20 dias.

“É muito irritante que algumas pessoas na Alemanha e na Europa não levem o vírus a sério. Minha esperança agora está na vacinação rápida. Acho que essa é a única possibilidade de termos nossa vida normal de volta”, disse Hufnagel.

Devido ao que parece ser uma escassez aguda de doses de vacinas no início deste ano, as tensões permaneceram altas entre União Europeia, Grã-Bretanha e alguns países do centro-leste europeu como a República Tcheca, Hungria e Áustria.

A conexão entre coágulos sanguíneos e a vacina AstraZeneca de COVID-19, que foi comprada e administrada em grandes quantidades por muitos países europeus, também gerou preocupação entre as pessoas.

A Agência Europeia de Medicamentos confirmou na quarta-feira que a ocorrência de coágulos sanguíneos com baixo teor de plaquetas está fortemente associada à vacina AstraZeneca.

Diante de desafios tão terríveis, alguns governos da região começaram a buscar alternativas. A Sérvia e a Hungria concederam permissão para o uso de uma vacina de COVID-19 desenvolvida pela China. Alguns outros países, como Polônia e República Tcheca, também expressaram interesse em vacinas feitas na China.

“Apoiamos totalmente a ideia chinesa de estabelecer uma comunidade global antipandêmica de cooperação e ajuda”, disse Sylwester Szafarz, ex-cônsul-geral da Polônia na cidade chinesa de Shanghai.

No entanto, as vacinas em si não são determinantes para a pandemia, até que as pessoas sejam inoculadas em grande número, alertou o Escritório da OMS para a Europa, observando que isso pode dar uma falsa sensação de segurança, induzindo a população a parar de usar máscaras e tomar outros cuidados.

DIGA NÃO À DEPRESSÃO

Além de medidas para acelerar a vacinação, vários governos e especialistas em saúde consideram as restrições sociais uma ferramenta fundamental para conter a doença e reduzir as mortes.

“Agora não é hora de flexibilizar as medidas. Não podemos nos dar ao luxo de ignorar o perigo. Todos nós fizemos sacrifícios, mas não podemos deixar a exaustão vencer. Devemos continuar controlando o vírus”, disse Kluge.

Com suas vidas mudando em meio à pandemia, muitas pessoas na Europa estão se acostumando a usarem máscaras fora de casa, trabalharem e estudarem em casa.

Para algumas pessoas, o futuro parece menos sombrio e a confiança está crescendo.

Uma vez preocupado que as quarentenas pudessem arruinar totalmente seu negócio, Remi Boute, diretor de uma livraria em Saint-Etienne, no sudeste da França, ficou aliviado quando sua loja foi reaberta.

“Quando as lojas reabriram, tivemos a satisfação de ver as pessoas nos dizendo que estavam felizes com a abertura delas. Voltaram em grande número”, disse ele.

“Enfrentamos algo que nunca tínhamos visto e então o que tentamos fazer foi entender, para tratar melhor nossos pacientes e salvar ou tentar resolver o problema na maioria dos casos que pudemos”, disse Pere Domingo, consultor-sênior de doenças infecciosas e coordenador de COVID-19 no Hospital Sant Pau de Barcelona.

“Este componente intelectual… tem sido algo que nos tem estimulado e ajudado a ultrapassar todos estes sentimentos negativos que uma vez ou outra todos tivemos”, disse o professor espanhol, que se dedica à investigação das doenças infecciosas desde 1989.

Agência Xinhua

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Voltar ao topo