Um ano de união pela mesma causa

Esporte se uniu em 2020 para repudiar assassinato de George Floyd, cometido por um policial branco. Atos foram desde a Fórmula 1 até o futebol

Heptacampeão da F1, Hamilton deu voz e mídia contra ataques a pessoas negras. Foto: Reprodução/Twitter

Ana Beatriz Venceslau
esportes@diariodepernambuco.com.br

O Dia da Consciência Negra é celebrado nesta sexta-feira no calendário. Mas na vida de muitos atletas essa é uma causa diária, um lembrete que aparece a todo instante em suas rotinas, já que a discriminação racial atinge os mais diferentes âmbitos da vida humana. Acadêmico, familiar, social e até mesmo o trabalhista. Com o esporte, não é diferente. Num cenário onde a competição é natural e necessária, sobreviver com dignidade também se torna um “alvo” a ser alcançado. Um objetivo a ser conquistado. Como se fosse questão de merecimento e privilégio, não um direito. E para reafirmar seus espaços, atletas de todo o mundo, e das mais diversas modalidades, protagonizam episódios em defesa da luta. Deles e de todos. Para além do mês de novembro.


Um caso que ganhou repercussão mundial acerca da temática do racismo foi a morte do afro-americano George Floyd, onde um policial branco o imobilizou com um dos joelhos em seu pescoço. Essa, por exemplo, foi uma das muitas vezes em que o piloto da Fórmula 1 Lewis Hamilton usou suas redes sociais para protestar contra o acontecimento. E não ficou só nisso. Também cobrou posicionamento dos seus companheiros e refletiu sobre o “esquecimento” do caso por parte de outros pilotos. Hamilton ainda esteve presente em atos de protestos nos arredores do Hyde Park, em Londres,.
Outro esportista com destaque na causa de combate ao racismo é LeBron James, do basquete. O jogador comumente aparece em suas redes sociais para abordar o tema. Neste ano, além de Floyd, o caso de Ahmaud Arbery, de 25 anos, foi destacado pelo atleta. O jovem negro, vítima da vez, foi assassinado a tiros por dois homens brancos, após uma perseguição.
Há três anos, inclusive, LeBron teve os muros da sua casa pichados com ofensas raciais. Algo que também faz o atleta se posicionar até os dias de hoje e gerar reflexões sobre como os negros são vistos dentro da sociedade.


No futebol nacional, a situação não é diferente. Apesar de mundialmente conhecido por “país do futebol”, o Brasil é também um dos principais lugares que servem de palco para os casos de racismo acontecerem. Uma das principais causas dessa sequência é a falta de punição por parte das autoridades responsáveis. Segundo dados do Observatório da Discriminação Racial no futebol, até o mês de agosto deste ano, em torno de 15 vezes o futebol brasileiro serviu de palco para episódios racistas. Um reflexo da sociedade, que ainda segundo levantamentos anuais do Observatório, está longe de ser erradicado, ou até mesmo diminuído. Um ciclo. Até quando?

“Lei é aplicada quando lhes convém”

Vítima de racismo, ex-goleiro Nilson deu sua opinião. Foto: Caio Falcão/CNC

Com marcas do racismo na carreira, o ex-goleiro Nilson Corrêa refletiu sobre a simbologia que o Dia da Consciência Negra traz, revelando acreditar em uma melhora no quadro de intolerância apenas “com uma nova cultura, educação, respeito e amor ao próximo”. Nilson, que defendeu os times do Santa Cruz e Náutico, também citou as barreiras da Justiça ao tratar de denúncias racistas, muitas vezes arquivadas.


“Esbarramos no Judiciário e nos legisladores. Dizem que racismo é crime, mas a lei é aplicada quando lhes convém. A única forma de mudar tudo isso era todos morrermos e nascer um novo povo, com uma nova cultura, educação, respeito, e amor ao próximo. É o que nos tem faltado”, desabafou inicialmente.


A propriedade na fala dele vem da voz de quem já esteve na condição de vítima. Foi em 2000, quando defendeu a Cobra Coral. Em campo, Nilson – e todo o estádio – ouviu imitações de macacos, vindas da torcida do Náutico. Clube o qual defendeu anos depois.
Nilson ainda apontou atitudes que podem ajudar a minimizar a problemática. “Se os atletas negros se rebelassem ao sofrer insultos raciais e seus colegas brancos colaborassem, em vez de minimizar os fatos, talvez pudessem ajudar a mudar algum comportamento vindo das arquibancadas, pois esperar por dirigentes esse protagonismo da mudança, não irá acontecer”, afirmou.

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