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Após dois anos, paz ainda é uma ilusão na crise da Ucrânia

Moscou/Kiev – Conforme o conflito em grande escala na Ucrânia completa seu segundo aniversário, a Rússia parece estar em vantagem com a captura de Avdiivka, um reduto estratégico na região de Donetsk, deixando Kiev e seus apoiantes em uma situação ainda mais difícil.

O cansaço causado pelo conflito que já dura dois anos, apelidado por alguns analistas de “Fadiga da Ucrânia”, agora permeia as nações ocidentais, resultando em uma posição dividida sobre a prestação de mais apoio ao país.

O recente conflito israelo-palestino limitou ainda mais a capacidade do Ocidente, especialmente dos Estados Unidos, de se concentrar na Ucrânia.

No entanto, os dois países, que continuam empenhados em avançar nas operações militares, não mostram sinais de iniciar conversações de paz.

Captura de tela de vídeo divulgada pelo Ministério de Situações de Emergência da Rússia mostra prédio danificado por bombardeio na cidade de Lysychansk, na região de Lugansk, no dia 3 de fevereiro de 2024. (Xinhua)

DILEMA DO CAMPO DE BATALHA

Nos últimos meses, a Rússia e a Ucrânia se concentraram na importância estratégica de Avdiivka, localizada a apenas 20 km de Donetsk e controlada pelas forças russas.

A cidade tem um papel essencial na segurança das linhas de frente do norte para o exército ucraniano na região de Donetsk.

Oleksandr Syrsky, comandante-chefe das Forças Armadas Ucranianas, disse na semana passada que a Ucrânia ordenou a retirada das tropas da cidade de Avdiivka, na linha de frente do leste.

“Para evitar o cerco e preservar a vida e a saúde dos militares, decidi retirar nossas unidades da cidade e passar para a defesa em linhas mais favoráveis”, disse ele.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, as tropas russas assumiram o controle total da cidade de Avdiivka.

Sean Bell, analista militar britânico, disse que a queda de Avdiivka deu à Rússia sua mais importante vitória no campo de batalha desde que tomou Bakhmut, após meses de exaustiva guerra de atrito.

Muitos analistas acreditam que a balança da guerra pende a favor da Rússia, mas não ao ponto de a Ucrânia correr o risco de um colapso total.

Na verdade, as linhas da frente do conflito quase não mudaram desde 2023, quando a ofensiva da Ucrânia no meio do ano fracassou. Isso continua mesmo após a queda de Avdiivka.

“Militarmente, não é uma grande perda”, disse Rob Bauer, presidente do Comitê Militar da OTAN, sobre a queda de Avdiivka. “Eles destruíram toda a infraestrutura. Você não tem uma cidade, mas sim algumas centenas de metros a mais”, disse ele sobre os ganhos territoriais da Rússia.

Como disse recentemente o antigo comandante-em-chefe das Forças Armadas Ucranianas, Valerii Zaluzhnyi, o conflito Rússia-Ucrânia entrou agora em uma fase caracterizada por impasse e desgaste.

Segundo os analistas, é aparentemente difícil para os dois lados fazer um grande avanço no campo de batalha este ano, mas a intensidade do conflito pode diminuir um pouco.

A Ucrânia provavelmente passará da ofensiva para a defensiva, enquanto a Rússia também terá dificuldade em expandir seu território para além das quatro áreas que controla.

As próximas eleições presidenciais dos EUA e da Rússia, a quantidade de ajuda que a Ucrânia pode receber do Ocidente, além da quantidade de militares reabastecidos para ambos, decidirão a tendência do conflito.

Bombeiros apagam fogo em prédio atingido por bombardeios em Donetsk, no dia 19 de dezembro de 2023. (Foto por Victor/Xinhua)

MENOS AJUDA OCIDENTAL

Admita ou não, a atenção global à crise da Ucrânia diminuiu recentemente e as pessoas no Ocidente, especialmente nos Estados Unidos, estão ficando mais cansadas da crise em andamento.

Quase metade da população dos EUA acredita que o país está gastando muito com a Ucrânia, de acordo com uma recente sondagem da Gallup.

A campanha eleitoral dos EUA já afetou negativamente a entrega de mais ajuda à Ucrânia.

Atualmente, um pacote de ajuda de 60 bilhões de dólares à Ucrânia está paralisado no Congresso dos EUA pelos republicanos de direita.

As autoridades americanas admitiram que pouco pode ser feito antes que os Estados Unidos elejam um novo presidente.

A situação é comparativamente melhor para os europeus, com os países da UE fechando um acordo no início de fevereiro para fornecer à Ucrânia 50 bilhões de euros (cerca de 54 bilhões de dólares americanos) em apoio ao país depois de a Hungria ter retirado suas ameaças de veto.

Mas converter este compromisso em munições disponíveis para os soldados da linha da frente ainda é um desafio.

Mesmo assim, parece que alguns países ocidentais não querem perder esta oportunidade de enfraquecer a Rússia e continuar exacerbando o conflito e lucrando com ele.

Nos dois anos de conflito, a indústria de defesa dos EUA registou um aumento nas encomendas de armas e munições, informou recentemente o Jornal The Wall Street.

Os negócios vêm dos aliados europeus que tentam reforçar suas capacidades militares, bem como do Pentágono, que está comprando novos equipamentos de fabricantes de defesa e reabastecendo os estoques militares esgotados pelas entregas à Ucrânia, afirmou.

O Departamento de Estado disse recentemente que os Estados Unidos fizeram mais de 80 bilhões de dólares em grandes negócios de armas durante o ano até setembro, dos quais cerca de 50 bilhões de dólares foram para aliados europeus, mais de cinco vezes a norma histórica, Myles Walton, analista de indústria militar da Wolfe Research, foi citado pelo Jornal The Wall Street.

Na Conferência de Segurança de Munique, recentemente encerrada, o aumento da ajuda militar à Ucrânia ainda era o principal tema.

Além disso, a Organização do Tratado do Atlântico Norte lançou no mês passado o “Defensor Firme 2024”, seu maior exercício militar em décadas, que é considerado ser dirigido à Rússia.

PAZ INALCANCÁVEL

O ano de 2023 começou com muitas esperanças para as tropas ucranianas que planejavam uma contraofensiva contra a Rússia, mas terminou com desilusão no campo de batalha.

“Independentemente do que a guerra possa ter conseguido, não foi boa para a Ucrânia”, disse Charles W. Freeman, ex-diplomata e escritor americano, acrescentando que a posição de acordos da Ucrânia contra a Rússia foi muito enfraquecida.

Tanto a Rússia como a Ucrânia disseram repetidamente que querem o fim da guerra, mas nos seus termos.

Em janeiro, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, advertiu que um cessar-fogo apenas daria à Rússia a oportunidade de se reagrupar e reabastecer suas unidades e estoques de armas.

“Falar sobre um cessar-fogo na Ucrânia não significaria paz nem o fim da guerra. Também não oferece oportunidade para o diálogo político”, disse Zelensky durante uma visita à Estônia.

De sua parte, o Kremlin disse em dezembro que não via nenhuma base atual para conversações de paz e qualificou o plano de paz de Kiev um “processo absurdo”, uma vez que excluía a Rússia.

Entretanto, os países ocidentais continuaram, embora com relutância, a fornecer cada vez menos ajuda à Ucrânia.

Para a maioria dos analistas, uma solução negociada em 2024 não parece promissora no momento.

Um inquérito realizado em janeiro em 12 países da UE concluiu que o pessimismo sobre o resultado do conflito estava sendo alimentado pela contraofensiva falha da Ucrânia, por uma possível mudança política dos EUA e pela possibilidade de Donald Trump ser reeleito como presidente.

Embora o apoio à Ucrânia entre os europeus continue alto, alguma forma de “solução de compromisso” é vista como a solução mais provável para o conflito na pesquisa feita com mais de 17.000 entrevistados pelo Conselho Europeu das Relações Exteriores. Isso marca uma mudança de sentimento, no entanto, uma vez que a maioria dos europeus, no primeiro aniversário do conflito, disse que a Ucrânia deve recuperar seu território perdido.

Em novembro, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, disse sobre a questão da Ucrânia: “Há muita fadiga. Estamos perto do momento em que todos entendem que precisamos de uma saída”.

Agência Xinhua

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